Visitando a bucólica Barra de São João, Distrito de Casimiro de Abreu, no Estado do Rio de Janeiro, é fácil entender o porquê de o filho mais ilustre da cidade relutar tanto em estudar comércio em Lisboa. "Que auroras, que sol, que vida"!
Casimiro José Marques de Abreu nasceu e morreu em Barra de São João. Filho de um comerciante português e uma brasileira, cursou o primário em Nova Friburgo. Transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, de onde aos 15 anos foi enviado para Lisboa para estudar comércio, como era a vontade de seu pai. Em Portugal, entrou em contato com vários intelectuais e viu florescer sua poesia. O saudosismo nacionalista presente em sua obra, o faz ser lembrado não apenas por ser um dos maiores poetas do Romantismo, mas também pelo amor à cidade onde nasceu. O jovem acabou adoecendo, vítima do mal-do-século e voltou para o Brasil. Aqui escreveu para diversos jornais, o que facilitou para que conhecesse Machado de Assis, que o incentivou em sua produção literária. Viu ser encenada sua peça Camões e o Jau em 1856 e publicou apenas um livro, em 1859: As Primaveras. Na introdução do livro, revela como a distância da casa materna o inspirou a escrever seu primeiro poema, quando tinha cerca de doze anos e estudava em Nova Friburgo: "Era a hora da merenda em nossa casa e pareceu-me ouvir o eco das risadas infantis da minha mana pequena! As lágrimas correram e fiz os primeiros versos da minha vida, que intitulei As Ave-Maria: a saudade havia sido minha primeira musa. Em 18 de outubro de 1860, com apenas 21 anos, o jovem poeta de versos saudosistas, melancólicos e pessimistas, faleceu, vitimado pela tuberculose.
Caminhando pelas ruas de Barra de São João e contemplando o entardecer às margens do rio que passa nos fundos da casa onde viveu o poeta, voltei aos meus oito anos: Que saudades da minha infância querida!
Meus oito anos
Oh! Que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! Dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! .
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