As histórias de Rosamundo — o distraído — são verdadeiras. E bárbaras. Teve o caso do dia em que ele comprou o livro Tia Zulmira e Eu, do famoso escritor brasileiro Stanislaw Ponte Preta, que todo mundo conhece como um dos luminares da nossa literatura moderna.
Rosamundo comprou o livro no dia do seu lançamento (quer dizer, lançamento do livro, não de Rosamundo). Pois comprou e ficou tão interessado que começou a ler na porta da livraria. Chamou um táxi, entrou no dito, e mandou tocar para o edifício onde mora, percorrendo todo o itinerário com a cara enfiada no livro, a ler gulosamente o fabuloso escritor.
Ora, se Rosamundo é distraído no simples, imaginem a ler um livro com tanto interesse. Tinha que dar em besteira.
Rosamundo saltou do táxi, pagou a corrida, e entrou no prédio a ler o livro. Chamou o elevador, saltou no seu andar, abriu a porta e — após tirar o paletó e colocar o livro sobre um móvel — foi direto para o banheiro, tomar seu banho rápido, para poder continuar, a leitura.
No banheiro, abriu o chuveiro e foi entrando debaixo, a cantar o fado aquele que diz "só porque és riquinlegante, queres que eu seja seu amante, etc., etc." Ele detesta fados, mas está sempre distraído. Tão distraído que, acabado o banho, olhou para fora do boxe e viu que não tinha toalha. Então abriu a porta do banheiro e berrou:
— Como é, mulher. Nesta porcaria desta casa não tem toalha?
A mulher trouxe a toalha e enfiou a mão pela porta entreaberta do banheiro.
Rosamundo, molhado e pelado, quis fazer um agradinho nela e puxou-a pelo braço para dentro do banheiro. E só então morou no vexame. A mulher que puxara era a do vizinho. Rosamundo tinha entrado no apartamento de baixo.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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