06/04/2013

FW: O sino e o sono-atividades




-->


O SINO E O SONO

Pareceu-me ouvir um sino bater: consultei o relógio. Uma hora da madrugada! Para quem quer sair do hotel, aí pelas sete horas, é preciso aproveitar o tempo e dormir bem.

(Eu tenho uma amiga que sempre verifica de que são feitos os colchões dos hotéis. Penso nisto porque este não me parece muito cômodo.)

A noite me infunde um sentimento de infinita humildade: entre as outras orações, cada um de nós podia dizer ainda: "Deus, recebe-me em Teus braços, toma conta de mim, sou, na Tua vontade, como um pássaro caído no mar!" Mas é curioso: neste quarto de hotel essas palavras e esses sentimentos não produzem aquele efeito de aconchego e ternura que parecem palpáveis no ambiente da minha casa! Até as paredes são diferentes em sensibilidade – penso. E fecho os olhos pensando.

(É verdade que eu não uso travesseiro. Mas seria difícil usar travesseiros como estes. De que serão feitos? Aquela minha amiga examina os travesseiros, também.)

O sino torna a bater. Ah! Estamos perto de um relógio que marca todos os quartos de hora! Meu Deus, como o tempo voa! É preciso dormir antes que seja uma hora e meia...

(Mas esta cama acaba logo ali ... Se eu medisse um metro e oitenta, não me seria possível ocupá-la! Que coisa estranha: no infinito da noite e do sono, este limite de madeira, ameaçador! Mas uma noite passa depressa, não tem importância. No entanto, como é difícil descansar assim!)

(Novamente o sino bate: uma hora e meia!)

Recordo vários métodos de conciliar o sono. Deixar o corpo solto como um vestido abandonado. Ir pensando em coisas cada vez mais distantes: a rua, a cidade, a estrada, o país, o Mundo, o espaço, a eternidade ...

(Mas o sino bate uma hora e quarenta e cinco minutos!)

Continuo a recordar. Como se dorme mais facilmente? Sobre o lado direito ou o esquerdo? Ah, onde foi que eu li que é bom pensar nas pontas dos pés, para desviar a circulação etc. ... etc.? E quem disse que é bom tomar um copo de leite morno com bolachas, ao deitar, para o sono vir mais depressa?

(O sino bate duas horas.)

Duas horas! Agora dormirei com certeza. Já estou cansada de lutar com o comprimento da cama, com os pensamentos sobre a arte de dormir ... Fechai-vos, olhos meus, e esqueçamos tudo ...

(Ah, mas o sino bate duas e um quarto!)

Que idéia, construir-se um hotel em cima de um sino! E este sino onde fica? Abro a janela para ver. O sino está na minha frente. É um gigantesco relógio, que me fita com todos os seus números e ponteiros. Belo de ver. Belo de ouvir, também. Mas...

(E são duas e meia ...)

E não há nada a fazer, o sino vai batendo de quarto em quarto, de hora em hora, todas as horas da noite ... três, quatro, cinco ...

Talvez Olavo Bilac tenha pousado por aqui, alguma vez, e, desistindo de dormir, tenha tomado de um papel e começado a escrever:

"No ar sossegado um sino canta,

Um sino canta no ar sombrio ..."

É quase sempre assim: sobre uma adversidade, abre-se a flor da poesia. O som da poesia. Um sino muito alto, no meio da noite, no meio do sono ...

MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho. (crônicas). 25 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002, p.109 – 111.




01. O texto deixa claro que a narradora pretende dormir e

(A) fica com saudade de seu lar.

(B) busca hospedar-se em um chalé.

(C) incomoda-se com barulhos externos.

(D) hospeda-se próximo à casa da amiga.



02. Os parágrafos se sucedem intercalados por trechos entre parênteses, recurso pelo qual a narradora

(A) expressa o aborrecimento que lhe causa o sino.

(B) transcreve a fala de outro personagem.

(C) insere comentários paralelos.

(D) desenvolve narrativa central.


03. No período "Que ideia, construir um hotel em cima de um sino!", o trecho grifado e o ponto de exclamação ressaltam sentimentos de 

(A) perplexidade e discordância

(B) admiração e júbilo.

(C) conivência e resistência.

(D) repúdio e aceitação.






04. O tratamento dado ao tema e o modo como as informações são organizadas permitem classificar o texto como uma



(A) crônica reflexiva, que avalia criticamente um assunto polêmico , apresentando

opiniões e argumentos.

(B) crônica narrativa, que recupera condensadamente fatos e impressões

experimentados por um sujeito.

(C) crônica jornalística, que comenta objetivamente um acontecimento relevante da

atualidade.

(D) crônica de viagem, que relata detalhadamente as descobertas de uma experiência de deslocamento.



5.Pode-se dizer que o que motivou a escrita da crônica foi a



(A) amizade.

(B) humildade.

(C) novidade.

(D) adversidade.




ABELHAS CONTRA ARMAS DE GUERRA

Enxames de abelhas treinadas são a esperança mais recente para combater uma praga que infesta dezenas de países, as minas terrestres. Tais armas estão entre as perversas invenções do homem. Custam poucos dólares, mas para removê-las são necessários milhares de dólares e, muitas vezes, o custo de vidas humanas. Há milhares de mutilados, muitos deles crianças, em dezenas de países. Num artigo na revista científica "Optics Express", o americano Joseph Shaw e seus colegas contam como treinaram abelhas para encontrar minas com 97,5% de acurácia. Eles desenvolveram um sistema a laser que marca e identifica as abelhas rapidamente. As abelhas, na verdade, aprendem a reconhecer o cheiro de uma substância presente nas minas e que é inserida numa mistura doce com a qual são alimentadas. Segundo Shaw, o olfato dos insetos é melhor que o de cães e o risco de acidentes é reduzido a quase zero.

Revista O Globo. Rio de Janeiro, n. 55, ago. 2005, adaptado, p. 50.



6. No texto, afirma-se que
(A) muitas crianças ficam mutiladas em função de minas terrestres.
(B) muitos países gastam milhões de dólares fabricando minas terrestres.
(C) o emprego de laser para desarmar minas terrestres é barato.
(D) o cheiro das abelhas propicia o desarmamento de minas terrestres.

7. O texto deixa subentendido que
(A) a utilização de abelhas é um processo rápido e eficaz.
(B) minas terrestres são uma esperança de combate às abelha
(C) jornalistas americanos treinaram abelhas para a pesquisa.
(D) cães reduzem o risco de acidentes com abelhas.

8. A única opção que apresenta informações do texto dispostas na ordem "fato / consequente opinião sobre ele" é
 (A) treinamento de abelhas / esperança no combate às minas terrestres.
(B) perversidade dos homens / mau-trato às abelhas.
(C) mutilação de crianças / cura com sistema a laser.
(D) acurácia (precisão) no olfato das abelhas / substituição de abelhas pelos cães.




9. Leia as seguintes afirmações sobre o texto:
I. O autor utiliza aspas para destacar um conceito ou expressão de caráter científico, cujo significado possa ser inacessível a um leitor comum.
II. A referência a uma revista científica de prestígio internacional confere credibilidade ao texto, reforçando a veracidade das informações divulgadas.
Sobre as afirmações acima, é pertinente dizer que
(A) ambas são incorretas.
(B) apenas I é correta.
(C) apenas II é correta.
(D) ambas são corretas.

10. Considerando as principais informações presentes no texto, um outro título pertinente para ele é:

(A) Novas armas de guerra a custo zero.
(B) Insetos treinados combatem erros humanos.
(C) Países reúnem-se para discutir uso de minas.
(D) Acidentes com abelhas combatidos a laser.




Nenhum comentário: