29/07/2014

O Assalto Luis Fernando Veríssimo - com atividades


— Alô? Quem tá falando?
— Aqui é o ladrão.
— Desculpe, a telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí?
— Não, os funcionário tá tudo refém.
— Há, eu entendo. Afinal, eles trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um deles?
— Impossível. Eles tá tudo amordaçado.
— Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
— Claro que não mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar mais seguro pra se comandar assalto!
— Bom... Sabe o que que é? Eu tenho uma conta...
— Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero!
— Não, isso eu já sabia. Eu sou professor! O que eu queria mesmo era uma informação sobre juro.
— Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a banco, vez ou outra um sequestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pra Brasília.
— Sei, sei. O senhor ta na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando por um voto hoje em dia... mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa.
— Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto!
— Longe de mim pensar que o senhor está de brincadeira! Que é um assalto eu sei perfeitamente; ninguém no mundo cobra os juros que cobram no Brasil. Mas queria saber o número preciso: seis por cento, sete por cento?
— Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da intimidação e da chantagem, saca?
— Ah, já tava esperando. Você vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né?
— Não...já falei...eu sou... Peraí bacana... hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho.
(um minuto depois)
— Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês.
— Puxa, que incrível!
— Incrive por que? Tu achava que era menos?
— Não, achava que era mais ou menos isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, eu consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço pelo telefone em menos de meia hora e sem ouvir 'Pour Elise'.
— Quer saber? Fui com a tua cara. Acabei de dar umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
— Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
— Nadica de nada, já ta tudo acertado!
— Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa...
(De repente, ouvem-se tiros, gritos)
— Ih, sujou! Puliça!
— Polícia? Que polícia? Alô? Alô?
(sinal de ocupado)
— Droga! Maldito Estado: quando o negócio começa a funcionar, entra o Governo e estraga tudo!
 Luis Fernando Veríssimo 
                                               

 Atividades

01)  Sobre a linguagem utilizada nesse trecho, é correto afirmar:

a- Foi utilizado o nível de linguagem culto, com vocabulário rico.

b- A linguagem utilizada pelos assaltantes pode ser considerada adequada ao contexto

c- O conteúdo e o vocabulário da linguagem dos assaltantes não está de acordo com os níveis de linguagem empregados.

d- A linguagem utilizada pelos assaltantes pode ser considerada inadequada porque é coloquial


02)  A expressão “Tu traz o berro que nóis vemo rendê o caixa bonitinho”, poderia ser substituída, sem mudar o sentido, em linguagem formal, por:

a) Me traga o revólver que nós vamos dominar facilmente o caixa.

b) Tu trazes o revólver que vais dominar o caixa.

c) Traga-me o revólver que vamos dominar de maneira bela o caixa.

d) Traga o revólver que vamos dominar facilmente o caixa.




Dicas para uma boa leitura



VOCÊ ESTÁ FAZENDO BOA ENTONAÇÃO NA LEITURA?
                 DICAS PARA BOA LEITURA:
Ler sem pressa,
Manter uma coordenação pneumo-fono-articulatória adequada,
Respirar adequadamente,
Articular obedecendo às regras de acentuação,
Não ler até que acabe o ar inspirado,
Não ler automaticamente ou decodificando simplesmente a mensagem,
Procure captar o sentido do texto.
Entonação controla significado,
Existe uma relação entre entonação na fala e pontuação na escrita,
A entonação não somente controla o significado literal da sentença como também afeta o tom ou estilo.



O CAVALINHO BRANCO  - Cecília Meireles
À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:
mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.
O cavalo sacode a crina
loura e comprida
e nas verdes ervas atira
sua branca vida.
Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos
a alegria de sentir livres
seus movimentos.
Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!
Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!


O TEMPO – Mário Quintana
"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já se passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo,
a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."

O ROUBO DO ELEFANTE  Luiz Fernando Verísssimo
Você tinha que roubar logo o elefante?
-Pois é...
-Tanta coisa no circo para roubar logo o elefante?!
-Agora está feito...
-Podia ter roubado os cachorros amestrados.
-Verdade.
-Roubava um por um. Passava pelo guarda com um cachorro de cada vez, pela coleira. Quem ia adivinhar que o cachorro não era seu?
- Ninguém.
-Podia ter roubado um macaco. Saia com ele no colo.
- É, se o guarda me visse?
-Dizia que era seu irmãozinho, que tinha começado a passar mal.
-É e se o guarda dissesse. “ele está parecendo um macaco”?
- Você gritava: meu Deus, é mesmo! Preciso levar ele num hospital, rápido!
- Certo.
- Podia ter roubado a foca.
-A foca?
- Vestia ela com uma capa, enterrava um chapéu na cabeça, quem ia dizer que não era um parente seu com pé chato e bronquite?
-É...
- Podia ter roubado o leão
-Sei não...
-Era só mudar o penteado e ele passava por um cachorro grande. E o tigre?
- Passava por gato?
-Não seria fácil, mas o guarda acabaria convencido. Você está entendendo?
-Sei.
- Podia ter roubado o cavalo. Passava pelo guarda montado nele, dizendo que tinham acabado de roubar o tigre e que você estava perseguindo o ladrão. Também daria para conversar o guarda. // No Brasil, o limite do que pode e do que não pode é a capacidade de se conversar o guarda. Conversar-se, enrola-se, paga-se uma cerveja, dá-se um jeito e tudo acaba passando. Agora; o elefante não. O elefante ultrapassou o limite.
- Sim.
- Não há nada a dizer pro guarda quando se é pego roubando um elefante. E muito menos o que você disse.
- Que elefante?
- Exato. O guarda se sentiu ofendido. Você estava chamado ele de burro. Como “que elefante?” O elefante estava ali. Aliás, nunca nada está tão ali como um elefante. O elefante é está, inegavelmente, ali e sobre a qual nenhuma conversa é possível. Você não foi pego só roubando um elefante. Isso já seria grave,mas houve o pior. Você foi pego sem uma explicação.
-É...
- Por quê? Me diga: por que elefante?
- Sei lá. Tudo parecia tão fácil...
-Foi o desafio, é isso? Você queria testar sua própria ousadia e a elasticidade da tolerância brasileira? Foi pesquisa sociológica, é isso?
- Não, não..
- Foi um impulso suicida, um mecanismo autopunitivo, você queria ser descoberto e castigado, é isso?
- Não ,não..
-Então o que você queria roubando o elefante?
- Acho que queria o elefante.
- E olho no que deu..
- Mas aprendi minha lição.
-Nunca mais roubar elefantes?
-Não. Na próxima vez, arranjar uma boa explicação.
-Acho que não vai haver uma próxima vez para você.
-Vai. Ah. Vai.




20/07/2014

Um apólogo - Machado de Assis

Um dia de ***** Luiz Fernando Veríssimo



Aeroporto Santos Dumont, 15h30min, senti um pequeno mal estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não aliviasse. Mas, atrasado para chegar ao ônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para Miami, resolvi segurar as pontas. Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão. "Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta, tranqüilo." O avião só sairia as 16h30. 

Entrando no ônibus, sem sanitários. Senti a primeira contração e tomei consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto. Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil, falei: "Cara, mal posso esperar para chegar na ***** do aeroporto porque preciso largar um barro." 

Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei força de vontade para trabalhar e segurei a onda. O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu desespero, uma voz disse pelo alto falante: "Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levará entorno de 1 hora, devido a obras na pista." 

Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo! Fiz um esforço hercúleo para segurar o trem ***** que estava para chegar na estação ânus a qualquer momento. Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro. 

O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então branco e macio, com textura e perfume e, foi quando, senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia ******. 

Um cocô sólido e comprido daqueles que dá orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar na privada. Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. 

Mas sem dúvida, a situação tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um pouco de solidariedade, e confessei sério: "Cara, caguei." Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle. "Que se dane, me limpo no aeroporto." - pensei. "Pior que isso não fico." 

Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei os olhos, segurei-me na cadeira, mas não pude evitar, e sem muita cerimônia ou anunciação, veio a segunda leva de *****. Desta vez, como uma pasta morna. Foi ***** para tudo que é lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés. E mais uma cólica anunciando mais *****, agora líquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa que eu nem tentei segurar, afinal de contas o que era um peidinho para quem já estava todo ******? 

Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa. E me caguei pela quarta vez. Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar Modess na cueca, mas colocou as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo junto. Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha menstruado tanta ***** que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada. 

Finalmente cheguei ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas.Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe, constatei a falta de papel higiênico em todos os cinco. Olhei para cima e blasfemei: Agora chega né? Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minha situação (que concluí como sendo o fundo do poço) e esperar pela minha salvação, com roupas limpinhas cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade no meu dia. Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o "check-in" e ia correndo tentar segurar o vôo. 

Jogou por cima do boxe o cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto de minha parte. Ele tinha despachado a mala com roupas. Na mala de mão só tinha um pulôver de gola "V" (A temperatura em Miami era de aproximadamente 35 graus). 

Desesperado comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis. Minha cueca joguei no lixo. A camisa era história. As calças estavam deploráveis e assim como minhas meias mudaram de cor tingidas pela *****. Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10. Teria que improvisar. A invenção é a mãe da necessidade, então transformei uma simples privada em uma magnífica máquina de lavar. 

Virei a calça do lado avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água. Comecei a dar descarga até que o grosso da ***** se desprendeu. 

Estava pronto para embarcar. Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola "V", sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde. Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavam esperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO" e atravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo que sorria. 

A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo. Eu cheguei a pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir: 

"Nada, obrigado. Eu só queria esquecer este dia de *****!!!"

O Mistério da Herança



Um homem rico estava muito mal, agonizando. Dono de uma grande fortuna, não teve tempo de fazer o seu testamento. Lembrou, nos momentos finais, que precisava fazer isso. Pediu, então, papel e caneta. Só que, com a ansiedade em que estava para deixar tudo resolvido, acabou complicando ainda mais a situação, pois deixou um testamento sem nenhuma pontuação. Escreveu assim:

'Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.'
Morreu, antes de fazer a pontuação. 

A quem deixava ele a fortuna? Eram quatro concorrentes. O objetivo deste exercício é que cada um dos grupos traga a fortuna para o seu lado. Ou seja, a partir de agora, cada um dos grupos agirá como se fossem os advogados dos herdeiros. O grupo 1 representará o sobrinho. O grupo 2 representará a irmã. O grupo 3 deverá fazer com que o padeiro herde a riqueza. E, finalmente, o grupo 4 deverá será responsável para a riqueza do falecido chegar apenas às mãos dos pobres. 

Ao final do exercício, o professor divulgará como deveria ficar cada um dos textos. 

Resposta:

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito :
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro puxou a brasa pra sardinha dele:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Então, chegaram os pobres da cidade. Espertos, fizeram esta interpretação: 
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais ! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

Sinais de Pontuação



Pontos de Vista
Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português quando estourou a discussão.
— Esta história já começou com um erro — disse a Vírgula.
— Ora, por quê? — perguntou o Ponto de Interrogação.
— Deveriam me colocar antes da palavra "quando" — respondeu a Vírgula.
— Concordo! — disse o Ponto de Exclamação. — O certo seria:
"Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português, quando estourou a discussão".
— Viram como eu sou importante? — disse a Vírgula.
— E eu também — comentou o Travessão. — Eu logo apareci para o leitor saber que você estava falando.
— E nós? — protestaram as Aspas. — Somos tão importantes quanto vocês. Tanto que, para chamar a atenção, já nos puseram duas vezes neste diálogo.
— O mesmo digo eu — comentou o Dois-Pontos. — Apareço sempre antes das Aspas e do Travessão.
— Estamos todos a serviço da boa escrita! — disse o Ponto de Exclamação. — Nossa missão é dar clareza aos textos. Se não nos colocarem corretamente, vira uma confusão como agora!
— Às vezes podemos alterar todo o sentido de uma frase — disseram as Reticências. — Ou dar margem para outras interpretações...
— É verdade — disse o Ponto. — Uma pontuação errada muda tudo.
— Se eu aparecer depois da frase "a guerra começou" — disse o Ponto de Interrogação — é apenas uma pergunta, certo?
— Mas se eu aparecer no seu lugar — disse o Ponto de Exclamação — é uma certeza: "A guerra começou!"
— Olha nós aí de novo — disseram as Aspas.
— Pois eu estou presente desde o comecinho — disse o Travessão.
— Tem hora em que, para evitar conflitos, não basta um Ponto, nem uma Vírgula, é preciso os dois — disse o Ponto e Vírgula. — E aí entro eu.
— O melhor mesmo é nos chamarem para trazer paz — disse a Vírgula.
— Então, que nos usem direito! — disse o Ponto Final. E pôs fim à discussão.

Pedindo uma Pizza em 2020 - Luís Fernando Veríssimo



- Telefonista: Pizza Hot, boa noite!
- Cliente: Boa noite, quero encomendar pizzas...
- Telefonista: Pode-me dar o seu NIN?
- Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional é 6102-1993-8456-54632107.
- Telefonista: Obrigada, Sr. Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros, 1988 ap. 52 B, e o número de seu telefone é 5494-2366, certo?
O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu telemóvel é 962 662566.
- Cliente: Como é que você conseguiu essas informações todas?
- Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
- Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma quatro queijos e outra calabresa...
- Telefonista: Talvez não seja uma boa ideia...
- Cliente: O quê?
- Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.
- Cliente: É. tem razão! O que é que sugere?
- Telefonista: Por que é que o Sr. não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Sr. vai adorar!
- Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?
- Telefonista: O Sr. consultou o site "Recettes Gourmandes au Soja" da Biblioteca Municipal, dia 15 de Janeiro, às 14:27h, onde permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...
- Cliente: OK, está bem! Mande-me duas pizzas tamanho extra grande!
- Telefonista: É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus 4 filhos,pode ter certeza.
- Cliente: Quanto é?
- Telefonista: São 49,99.
- Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?
- Telefonista: Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito foi ultrapassado.
- Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco levantar dinheiro antes que chegue a pizza.
- Telefonista: Duvido que consiga, o Sr. está com o saldo negativo no banco.
- Cliente: Meta-se na sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?
- Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na mota não é aconselhável, além de ser perigoso...
- Cliente: Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de mota?
- Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua mota está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.
- Cliente: @#%/§@&?#§/%#!!!!!!!!!!!!!
- Telefonista: Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... Não se esqueça de que o Sr. já foi condenado em Julho de 2006 por desacato em público a um Agente da autoridade.
- Cliente: (Silêncio).
- Telefonista: Mais alguma coisa?
- Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.
- Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 095423/12, proíbe a venda de bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...
- Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou-me atirar pela janela!!!
- Telefonista: E torcer um pé? O Sr. mora no rés-do-chão!
Luís Fernando Veríssimo


08/07/2014

As copas do mundo do Brasil



Seleção de futebol do Brasil campeã em 1958!

Um breve relato e retrospecto em cada uma das copas do mundo de futebol em que o Brasil foi campeão!