13/08/2020

Labirintite e outras ites - Marcos Rohfe

LABIRINTITE E OUTRAS "ITES" 

Marcos Rohfe 


Acordei tonto. Ora, alguns amigos me dizem que não se surpreendem, porque normalmente sou mesmo meio tonto. Bullyings "amigos" à parte, o fato é que estou com a labirintite
atacada. A isso somam-se a rinite e a sinusite também.... E, como se não fosse suficiente, a esse
grupo medonho junta-se a tendinite nos pulsos e está pronta minha tragédia diária, já que trabalho digitando textos o dia todo.
Fico me lembrando das aulas de Língua Portuguesa, essa coisa linda... Especialmente por
conta da minha coleção de "ites". Dona Cidinha, minha professora da 7ª série (hoje conhecida como 8º ano...), nos brindando e enchendo duas lousas com listas e mais listas de sufixos e prefixos gregos e latinos. E lá estava o tímido e modesto "ite", que me ama de paixão. Esse sufixo
grego com falta do que fazer na vida.
Lembro-me dela olhando fixamente para mim (eu com o nariz sempre escorrendo por conta da coriza, causada pela rinite e sinusite), explicando que o sufixo "ite" indicava sempre uma
doença ou inflamação do órgão ou da estrutura anatômica presente no radical da palavra. No
meu caso, a infecção das narinas (
rino, daí rinite) e dos seios da face (sinus, daí sinusite). Mais
tarde, eu agregaria labirintite (labirinto) à minha lista.
É estranho imaginar que temos uma estrutura em nosso corpo chamada labirinto. É o nome
dado a uma região na parte interna da orelha. É responsável pela noção de equilíbrio e da percepção da noção do corpo e tem formato de caracol. Quando era pequeno, assistindo ao Sítio
do Picapau Amarelo na tevê, me impressionava a figura do Minotauro em seu labirinto. Quando
tinha dor de ouvido (otite, olha o "ite" aí de novo) ficava matutando se não haveria algum monstro feito um Minotauro dentro da minha cabeça...
Meu amigo Edson disse que eu sofrer de labirintite é plenamente explicável, considerando
que, como libriano, vivo em constante estado de confusão mental... O que é uma bobagem,
porque, em tese, todo libriano deveria ser equilibrado, e a labirintite causa exatamente a falta
de equilíbrio.... Enfim...
Tudo isso me faz lembrar que sempre gostei das aulas de Língua Portuguesa, me encantava saber como é que as palavras eram criadas, de onde vinham, como se dava esse processo.
Saber que o latim originou o português, que continua em transformação até hoje, com contribuições de línguas como o grego ou o celta, passando pelo árabe, pelo tupi, pelo iorubá, dentre
outras... Realmente essa construção me fascina.
Mas, agora, infelizmente, preciso encarar minhas companheiras "ites" de todo dia e ir trabalhar... Fazer o quê?  

#partiutrabalho. 



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03/08/2020

online ou on-line?

On-line ou online


forma preferencial de escrita da palavra é on-line, com hífen. A palavra online, sem hífen, embora seja frequentemente utilizada e se encontre dicionarizada nos dicionários de língua inglesa, não se encontra reconhecida no vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras. Devemos utilizar a palavra on-line para referir alguém ou algo que está conectado à Internet ou a alguma rede de computadores, bem como a tudo aquilo que é feito através da ou na Internet. Assim, a palavra on-line é sinônima de acessível, conectado, disponível, em conexão, em linha, em rede, na Internet, on, entre outras. 

On-line é um estrangeirismo, sendo a forma original de escrita da palavra em inglês. Enquanto em alguns estrangeirismos utilizamos a forma aportuguesada da palavra (como batom, abajur, boxe,…), em outros utilizamos a palavra na sua forma original (como mouse, delivery, shopping,…). No caso em questão, a palavra on-line é usada em sua forma original. Existe, contudo, a expressão em rede que, embora menos usada, é a sua substituta em português. A palavra on-line, sendo um estrangeirismo, poderá aparecer escrita em itálico ou entre aspas.

Exemplos:

  • Minha filha apareceu numa reportagem on-line.
  • Apenas serão aceitas as inscrições feitas on-line.
  • Quando você estiver on-line poderemos falar no chat.

Fique sabendo mais!

O antônimo da palavra on-line é off-line.

Exemplos:

  • Ele está on-line.
  • Ele está off-line

Palavra relacionada: on-line.

Fonte





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19/07/2020

A viagem do pardalzinho



Era uma vez um pardalzinho que odiava ter que voar para o sul fugindo do inverno. Ficava tão apavorado com a ideia de deixar o seu lar e suas coisas que decidiu adiar a viagem até o último momento possível.

Depois de se despedir carinhosamente de todos os seus amigos passarinhos que partiram, voltou ao seu ninho e ficou por mais algum tempo. Finalmente, o clima se tornou tão intensamente frio que ele não pôde mais adiar a viagem. Quando o pardalzinho deu início ao seu voo rumo ao sul, iniciou uma forte chuva. Rapidamente começou a se formar gelo sobre suas asas.

Quase morto de frio e exausto pelo esforço extra por causa da camada de gelo em suas penas, o pobre pardal foi perdendo altura. Não aguentando mais sustentar o próprio peso, caiu por terra num pátio de estrebaria. Quando estava exalando o que pensava ser o seu último suspiro, um cavalo saiu da cocheira, virou o traseiro em sua direção, e cobriu de merda o coitado do pardalzinho.

De imediato, a avezinha não podia pensar em outra coisa a não ser naquele modo horrível de morrer: “todo cagado”. Entretanto, quando as fezes do cavalo começaram a descer e penetrar em suas penas, começaram também a aquecê-lo. A vida aos poucos começou a voltar em seu corpo e o pardalzinho descobriu também que tinha espaço suficiente para respirar.

















Da fábula acima pode-se tirar as seguintes conclusões:

1) Nunca deixe seus projetos para depois, nem tome decisões importantes em cima da hora.

2) Nada é tão ruim que não possa piorar!

3) Nem todo aquele que caga em cima de você é seu inimigo!

4) Nem sempre quem tira você da merda é seu amigo!

5) Se você sente-se quente e confortável, mesmo estando num monte de merda, fique de bico fechado!


28/06/2020

Aonde vais tão lesto?

Vende-se um sítio - Olavo Bilac

Conta-se que o dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua e lhe falou: Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o senhor conhece tão bem. Poderia redigir um anúncio para o jornal?

Olavo Bilac, muito solícito, apanhou um papel e escreveu:

Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda

Meses depois, o poeta topa com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.

Nem pensei mais nisso, disse o amigo. Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha.

Às vezes, para que possamos reconhecer o valor dos tesouros que possuímos, é preciso que alguém nos abra os olhos. E isso não acontece somente com relação aos bens materiais, mas também no campo afetivo.

17/06/2020

Olha o passarinho

Quando a fotografia foi inventada, a impressão da imagem no filme não se dava com a mesma rapidez dos dias atuais. Na metade do século 19, os fotografados tinham de permanecer parados por até 15 minutos, a fim de que sua imagem fosse impressa dentro da máquina.

Fazer as crianças ficarem imóveis por tanto tempo era um verdadeiro desafio. Por isso, gaiolas com pássaros ficavam penduradas atrás dos fotógrafos, o que chamava a atenção dos pequenos.

Assim, a expressão "Olha o passarinho" ficou conhecida como a frase dita pelo fotógrafo na hora da pose para a foto.




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05/06/2020

A falta que ela me faz - Por FERNANDO SABINO



 

Como bom patrão, resolvi, num momento de insensatez, dar um mês de férias à empregada. No princípio achei até bom ficar completamente sozinho dentro de casa o dia inteiro.

Podia andar para lá e para cá sem encontrar ninguém varrendo o chão ou espanando os móveis, sair do banheiro apenas de chinelos, trocar de roupa com a porta aberta, falar sozinho sem passar por maluco.

Na cozinha, enquanto houvesse xícara limpa e não faltassem os ingredientes necessários, preparava eu mesmo o meu café. Aprendi a apanhar o pão que o padeiro deixava na área " tendo o cuidado de me vestir antes, não fosse a porta se fechar comigo do lado de fora, como na história do homem nu.

Esticar a roupa da cama não era tarefa assim tão complicada: além do mais, não precisava também ficar uma perfeição, já que à noite voltaria a desarrumá-la.

Fazia as refeições na rua, às vezes filava o jantar de algum amigo e, assim, ia me aguentando, enquanto a empregada não voltasse. Aos poucos, porém, passei a desejar ardentemente essa volta.

O apartamento, ao fim de alguns dias, ganhava um aspecto lúgubre de navio abandonado. A geladeira começou a fazer gelo por todos os lados " só não tinha água gelada, pois não me lembrara de encher as garrafas.

E agora, ao tentar fazê-lo, verificava que não havia mais água dentro da talha. Não podia abrir a torneira do filtro, já que não estaria em casa na hora de fechá-la, e com isso acabaria inundando a cozinha.

A um canto do quarto um monte de roupas crescia assustadoramente. A roupa suja lava-se em casa " bem, mas como" Não sabia sequer o nome da lavanderia onde, pela mão da empregada, tinham ido parar meus ternos, provavelmente para sempre. E como batiam na porta!

O movimento dela lá na cozinha, eu descobria agora, era muito maior do que o meu cá na frente: vendedores de muamba, passadores de rifa, cobradores de prestação, outras empregadas perguntando por ela.

Um dia surgiu um indivíduo trazendo uma fotografia dela que, segundo me informou, merecera um "tratamento artístico": fora colorida à mão e colocada num desses medalhões de latão que se vêem no cemitério. " Falta pagar a última prestação disse o homem. Paguei o que faltava, que remédio"

Sem ao menos ficar sabendo o quanto o pobre já havia pago. E por pouco não entronizei o retrato na cabeceira de minha cama, como lembrança daquela sem a qual eu simplesmente não sabia viver.

Verdadeiro agravo para a minha solidão era a fina camada de poeira que cobria tudo: não podia mais nem retirar um livro da estante sem dar logo dois espirros. Os jornais continuavam chegando e já havia jornal velho para todo lado, sem que eu soubesse como pôr a funcionar o mecanismo que os fazia desaparecer.

Descobri também, para meu espanto, que o apartamento não tinha lata de lixo, a toda hora eu tinha de ir lá fora, na área, para jogar na caixa coletora um pedacinho de papel ou esvaziar um cinzeiro. Havia outros problemas difíceis de enfrentar.

Um dos piores era o do pão: todas as manhãs, enquanto eu dormia, o padeiro deixava à porta um pão quilométrico, do qual eu comia apenas uma pontinha " e na cozinha já se juntava uma quantidade de pão que daria para alimentar um exército, não sabia como fazer parar. Nem só de pão vive o homem.

Eu poderia enfrentar tudo, mas estar ensaboado debaixo do chuveiro e ouvir lá na sala o telefonema esperado, sem que houvesse ninguém para atender, era demais para a minha aflição.

Até que um dia, como uma projeção do estado de sinistro abandono em que me via atirado, comecei a sentir no ar um vago mau cheiro. Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua.

Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar. No que abri a porta, o mau cheiro me atingiu como uma bofetada. Vinha do fogão, certamente.

Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno. " Oh não! " recuei horrorizado.

Na panela, a carne assada, que a empregada gentilmente deixara preparada para mim antes de partir, se decompunha num asqueroso caldo putrefato, onde pequenas formas brancas se agitavam. Mudei-me no mesmo dia para um hotel.

Do livro "As Melhores Crônicas de Fernando Sabino" (editora Record), com direitos gentilmente cedidos pelo filho do autor, Bernardo Sabino, como parte das celebrações pelos 50 anos de publicação de "O Encontro Marcado".