24/02/2014

Aula 01: O que é Literatura?


 

Literatura

Literatura é a arte da palavra. É a técnica de usar as palavras com criatividade e originalidade: Assim como o pintor usa tintas para fazer um quadro e levar sua mensagem, assim como o músico utiliza a combinação harmoniosa dos sons para comunicar-se com seu público, também o literato usa as palavras para expressar suas ideias é emoções.

Na literatura, as palavras podem não ter o mesmo valor das palavras que utilizamos na vida diária. Em nosso cotidiano, as palavras têm um valor utilitário, ao passo que, se usadas no texto literário, adquirem valor artístico, podendo criar um mundo poético ou ficcional, por meio da maneira como são usadas.

O artista da palavra pode nos retratar uma realidade objetiva ou, simplesmente, criar um mundo subjetivo, interpretando a realidade a seu modo. A realidade literária (a criação literária) pode estar em desacordo com a realidade sensível, objetiva.

A literatura se reveste de grande importância porque é a expressão do ser humano e da vida, e porque retrata épocas, costumes e ideias.

Segundo Soares Amora, na literatura, "o interessante não é apenas quem se exprime e o que se exprime, mas como se exprime".

Linguagem literária e não-literária

Como distinguir, na prática, a linguagem literária da não-literária?

  • A,linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (palavras de sentido figurado), em que as palavras adquirem sentidos mais amplos do que geralmente possuem.
  • Na linguagem literária há uma preocupação com a escolha e a disposição das palavras, que acabam dando vida e beleza a um texto.
  • Na linguagem literária é muito importante a maneira original de apresentar o tema escolhido.
  • A linguagem não-literária é objetiva, denotativa, preocupa-se em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu sentido próprio, utilitário, sem preocupação artística. Geralmente, recorre à ordem direta (sujeito, verbo, complementos).

Leia com atenção os textos a seguir e compare as linguagens utilizadas neles.

Texto A

Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de sua terra. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa; devoção, culto; adoração: amor à Pátria; amor a uma causa. 3. Inclinação ditada por laços de família: amor filial; amor conjugal. 4. Inclinação forte por pessoa de outro sexo, geralmente de caráter sexual, mas que apresenta grande variedade de comportamentos e reações.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Nova Fronteira.

Texto B

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.
Luís de Camões. Lírica, Cultrix.

Você deve ter notado que os textos ao lado tratam do mesmo assunto, porém os autores utilizam linguagens diferentes.

No texto A, o autor preocupou-se em definir "amor", usando uma linguagem objetiva, científica, sem preocupação artística.

No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no campo subjetivo, com sua maneira própria de se expressar, utiliza comparações (compara amor com fogo, ferida, contentamento e dor) e serve-se ainda de contrastes que acabam dando graça e força expressiva ao poema (contentamento descontente, dor sem doer, ferida que não se sente, fogo que não se vê).


Atividades
 

1- Responda:
a) Em que se assemelham um pintor, um músico e um escritor?
b) Um texto literário pode ser produzido com palavras simples do dia-a-dia? Por quê?
c) Que tipos de realidade o escritor pode expressar em sua criação literária?
d) Você acha a literatura importante? Por quê?
e) Você já leu alguma obra ou algum texto literário? Cite o autor, o nome da obra e o assunto.
f) Aponte algumas diferenças entre a linguagem literária e a não-literária.

2- Leia os textos e responda:

Texto 1 - Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te a fim de um calmo amor prestante
Eu te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude,
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Moraes, Vinícius de


Texto 2 - Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Moraes, Vinícius de

Texto 3 - Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfaz a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se do triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Moraes, Vinícius de

a) Podemos dizer que os textos acima foram escritos em linguagem literária? Por quê?
b) De que falam esses textos? Podemos dizer que tratam somente das experiências individuais do seu autor ou há algo, neles, parecido com o que sentimos? Explique.
c) Existe algo em comum nos três textos? O quê?

3- Leia com atenção os textos e, a seguir, faça o que se pede.

Texto A

AMOR

Amor?
Receios, desejos, promessas de paraíso.
Depois sonhos, depois risos, depois beijos!
Depois...
E depois, amada?
Depois dores sem remédio,
depois pranto, depois tédio,
depois... nada!
Menotti del Picchia. Juca Mulato, Ediouro.

Texto B

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Compare os textos A e B e explique por que um é literário e o outro não.

4- Leia o texto e responda:

CARLOTA

Eu sabia que era bela; mas a minha imaginação apenas tinha esboçado o que Deus criara.
Ela olhava-me e sorria.
Era um ligeiro sorriso, uma flor que desfolhava-se nos seus lábios, um reflexo que
que iluminava o seu lindo rosto.
Seus grandes olhos negros fitavam em mim um desses olhares lânguidos e aveludados que afagam os seios d'alma.
Um anel de cabelos negros brincava-lhe sobre o ombro, fazendo sobressair a alvura diáfana de seu colo gracioso.
Tudo quanto a arte tem sonhado de belo e de voluptuoso desenhava-se naquelas formas soberbas, naqueles contornos harmoniosos que se destacavam entre as ondas de cambraia de seu roupão branco.
José de Alencar. Cinco minutos, Ática.

Destaque as palavras e expressões que foram usadas em sentido figurado e poético, isto é, com sentido diferente do usual.



Fonte:


http://www.robertoavila.com.br/arquivos/literatura_aula01.htm

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