04/01/2014

Dois velhinhos-Dalton Trevisan

Internauta
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Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.

Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro:

— Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde:

— Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda:

— Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.

Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo.

Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.

Texto extraído do livro "Mistérios de Curitiba", Editora Record — Rio de Janeiro, 1979, pág. 110.

Tudo sobre o autor em nossa página "Biografias".

No conto, a perspectiva do narrador que apresenta sua opinião sobre os fatos da narrativa e se posiciona diante do acorrido justifica-se pelo o uso de:
(a) 3ª pessoa, com narrador onisciente.
(b) 1ª pessoa, com narrador personagem.
(c) 3ª pessoa, com narrador observador.
(d)1ª pessoa, com narrador testemunha.



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